Entrevista - Agrotóxico

Palco improvisado com engradados de cerveja, festivais no meio da rua, participações em tributos de bandas nacionais e estrangeiras, assim tem sido a trajetória dessa banda formada há 11 anos na periferia da cidade de Ademar (São Paulo, capital). Da formação original só restou o Marcos, guitarrista, que divide o vocal com o Jeferson, que manda ver no baixo e, na cozinha, cuidando das baquetas o Pedro. Antes de embarcarem para a Europa para a segunda turnê da banda, o Total Punk bateu um papo com o Marcos, via msn (tecnologia a serviço do homem) para saber um pouco da história do Agrotóxico.


Total Punk: Por quê Agrotóxico?

Marcos: Agrotóxico é uma analogia a tudo que corrói as pessoas sem que elas percebam, assim como fazem alguns sentimentos como o ódio, a inveja, o egoísmo etc...


TP: Por falar nisso, quantas pessoas já passaram pelo Agrotóxico?
M
: Nossa... Deixa eu fazer as contas. Bateristas: 5; Baixistas: 2, porque inicialmente o Mauro tocava e cantava; Vocais: 2 e Guitarrista apenas eu que atualmente também divido os vocais com o Jef...

TP: O que mudou no Agrotóxico com a troca de integrantes em relação à sonoridade?
M
: Bom, todos os novos integrantes de uma maneira ou de outra trouxeram influências pessoais que se incorporaram à banda, mas acho que as mudanças principais de sonoridade se deram com a troca de vocalistas, que naturalmente têm maneiras bem diferentes de encaixar as letras, além de timbres diversos.

TP: E por falar em influências, foi bom você falar nisso, quais são as maiores influências da banda?
M: Bom, acho que essas são as influências pessoais comuns entre nós: Discharge, Exploited, Varukers, Lama, Appendix, Olho Seco, Riistetyt e DRI.

TP: No começo vocês faziam shows em lugares toscos e fora do contexto do som punk rock/hardcore. Olhando para uma década atrás, o que você vê nessa experiência?
M: Putz... Como valeu, a gente aprendeu a dar valor pras coisas mais básicas... Começamos fazendo show na rua, na frente de bares da periferia, cansamos de tocar em palcos montados em cima de caixas de cerveja, e pra falar a verdade, quando o som começava a rolar ninguém estava nem aí pra isso, acho que esse é o espírito, fazer as coisas da melhor maneira possível, seja num boteco do subúrbio ou numa casa pra 800 ou 1000 pessoas. Hoje temos uma estrutura bem melhor e convites freqüentes pra tocar, mas ainda assim, de vez em quando nos aventuramos e tentamos desbravar locais onde nenhuma banda punk tenha tocado anteriormente, assim como fazíamos no início dos anos 90 juntamente com bandas como Invasores de Cérebros e Ação Direta.


TP: Por falar em show na rua, como foi organizar o festival Som de Rua? Quais bandas tocaram? E em que ano foi isso?
M: Isso ocorreu em 1994/5 se não me engano. Era muito legal, arrumávamos amplificadores e caixas emprestadas e chamávamos bandas de diversos estilos, porque o público também era variado. Lembro que o FDS e o Calibre 12 chegaram a participar. Aliás, um fato engraçado é que um dos caras que nos dava uma força na época emprestando algum equipamento era um cara que chamávamos de Patife e que agora é conhecido no mundo todo como DJ Patife...(rs)

TP: Logo depois da formação da banda, veio uma onda melódica... Como foi esse período pra vocês?
M:
Pra falar a verdade isso nunca nos incomodou muito, pois particularmente sempre achei que há espaço pra todos que tenham um trabalho honesto. Naquela época, apesar de haver muito mais facilidade para bandas melódicas como há até hoje, sempre existiram pessoas a fim de algo mais marginal como o hardcore e o punk rock, e nós nunca fizemos questão de sermos conhecidos, bastando para nós que houvessem alguns shows e, nesses shows, algumas pessoas pra compartilhar a música e idéias... Mas, bom que se frise que algumas bandas melódicas dessa época possuíam e ainda possuem trabalhos muito honestos e continuam batalhando pelo que acreditam como Nitrominds e Garage Fuzz, por exemplo.


TP: Você falou que a banda nunca se preocupou em se tornar conhecida, mas depois de Estado de Guerra Civil, a banda ganhou visibilidade, a que você atribui isso? Muita gente começou a ouvir falar de Agrotóxico após uma década de trampo...
M: É verdade, mas isso foi conseqüência de um trabalho que tentamos fazer da melhor maneira possível, pois investimos em uma boa capa, gravação, e tentamos distribuir o CD de uma forma mais ampla, junte-se a isso o tempo de banda, a quantidade de shows e um certo reconhecimento no exterior. Acredito que essa série de fatores tenha gerado essa maior visibilidade e respeito.

TP: Todo o material de vocês já foi lançado no exterior?
M:
Na verdade, com exceção de algumas coletâneas que fomos convidados a participar, todas as nossas principais gravações foram editadas em vinil e CD no exterior. Temos um selo muito legal na Europa (Dirty Faces) que está sempre disposto a lançar e distribuir nosso material por lá.

TP: Além de coletâneas, vocês já participaram de alguns tributos. Quais foram?

M: Sim, participamos do Tributo ao Olho Seco que por sinal foi realizado por nós mesmos e, além dele, participamos ainda de tributos ao Ação Direta, Poison Idea e recentemente ao Cólera.

TP: De início o Agrotóxico lançou duas demos e só depois conseguiu lançar o primeiro CD, “Caos 98” com a participação do Fábio, Olho Seco. Como surgiu a idéia de convidá-lo para o álbum de vocês?
M: O Fábio é meu amigo faz tempo, sempre perdia minhas horas de almoço em sua loja na época em que trabalhava no centro. Na época me lembro de comentar freqüentemente com ele que se um dia precisasse de alguém pra reeditar o Olho Seco poderia contar comigo. Assim, através desse vínculo acabamos por convidá-lo a participar de nosso CD e acho que foi a partir daí que se concretizou a volta do Olho Seco ocorrida no ano de 1998.

TP: Ainda está de pé o projeto de lançar material novo do Olho Seco?
M: Da nossa parte sim, mas o Fábio está com labirintite e uma das recomendações médicas é, ironicamente, que evite locais barulhentos. Fora isso, acho que é vontade de todos nós retornarmos com o Olho Seco.

TP: Como foi viajar para a Europa como (ou com o) Olho Seco?
M:
Foi espetacular! Conhecemos a verdadeira cena punk nos squats, viajamos diariamente, enfim vivemos durante um mês a vida que provavelmente viveríamos o tempo todo se fossemos uma banda européia. Aliás, foi incrível ver que 20 anos após a formação da banda, o Olho Seco continua sendo uma banda muito popular na Europa. Fizemos diversos shows onde o público cantava (ou tentava cantar) diversas músicas, mesmo sendo a banda oriunda de um país tão distante do primeiro mundo e de uma época de comunicação tão precária.

TP: Vocês já tocaram com o Rasta Knast algumas vezes, vocês os reencontrarão nesta tour pela Europa?

M: Sim, apesar do Rasta estar meio parado após a saída do baixista Thomas, certamente os encontraremos, até porque o guitarrista e vocal, Martin, fará uma segunda guitarra no Agrotóxico durante toda a tour, o que sem dúvida será muito divertido.

TP: Vocês pretendem registrar a tour pela europa?
M:
Sim, estamos à procura de um bom equipamento de vídeo para fazermos algo de qualidade e, eventualmente, editar no Brasil. Além disso, com certeza faremos o possível para gravar o maior número de shows e faremos centenas de fotos.

TP: A parceria com os alemães é duradoura e até rendeu uma split. Como foi a escolha dos covers a serem tocados pelo Agro, no “Marcas da Revolta”?

M: Na verdade selecionamos bandas clássicas que necessariamente cantassem em alemão e, partindo daí, passamos a escolher as músicas. Na verdade estávamos muito atrasados para entregar o material pro Rasta e então fizemos as coisas um pouco às pressas, acho que se não fosse isso o resultado poderia ter sido ainda melhor.


TP: Como foi tocar com Riistetyt?
M: Foi muito foda!!! O Riistetyt é uma lenda viva do hardcore mundial e foi realmente demais tocar com os caras numa noite que, como se não bastasse, ainda pisaram no palco Cólera e Ação Direta. Aliás, é legal ver com os próprios olhos como "estrelismo" não tem lugar na cena Punk, pois mesmo sendo o Riistetyt uma das maiores bandas européias em atividade, os caras se demonstraram muito amigáveis, humildes e atenciosos.

TP: Você acha que existem pessoas q viajam nessa coisa de "punk star"?
M:
Sem dúvida, acho que tem muitas pessoas que acreditam que podem ser estrelas do Punk. Eu não acredito nisso e por isso fiquei satisfeito ao constatar mais uma vez que bandas lendárias como o Riistetyt são formadas por pessoas como nós.

TP: Variação do mesmo tema: o que mudou no underground nessa primeira década de trabalho?
M: Musicalmente falando, em matéria de shows, a estrutura sem dúvida está muito melhor e, seguindo o exemplo do Hangar 110, várias casas têm se preocupado em investir em equipamentos e instalações. Com relação às gravações, a melhora foi absurda, tanto pela quantidade, quando pela qualidade dos lançamentos. No que se refere à parte mais política do underground, acho que a melhora foi da mesma forma notável, mas ainda vemos muitas pessoas com atitudes preconceituosas e infantis e outras que simplesmente se alienam de tudo a sua volta e sequer conseguem ter opiniões sobre os problemas que as cercam.

TP: Você falou em atitudes preconceituosas e infantis dentro do underground, o Agro já sofreu algum tipo de "boicote" ou preconceito?
M:
Sim, já deixamos, por exemplo, de tocar em uma conhecida casa de shows em SP, porque um de seus "promotores", apesar de pretenso Punk, teria afirmado que nosso público era formado por Punks encrenqueiros que iriam arrumar confusões no local.

TP: Além de beber cerveja e tocar no Agro, o que os integrantes da banda fazem?

M: Bom, na maioria trabalhos chatos e burocráticos. Eu trabalho num escritório de advocacia, Jeferson numa corretora de seguros e o Pedro trabalha com controle de qualidade de produtos de uso proibido, hahaha.


TP: Como anda a Red Star? O que tem sido lançado? O que está no forno pra sair?

M: Bom, apesar da Red Star ter sido idealizada por mim e pelo Jeferson, atualmente apenas ele tem se dedicado à mesma. Recentemente foi lançado o Gee Strings e, não tão recentemente, o “Marcas da Revolta”. Sei que em breve será editado o novo CD do Phobia, posteriormente Bonne House e um split que estamos gravando com uma banda americana chamada Behind Enemy Lines, que deve sair no final desse ano no Brasil.


TP: Fora a remasterização de Estado de Guerra Civil, tem previsão de material novo do Agro?

M: Sim, o split que mencionei acima com o Behind Enemy Lines dos U$A, onde gravaremos pelo menos cinco sons novos e mais algumas sobras de estúdio.


TP: Em quais bandas novas do cenário nacional você aposta suas fichas?
M: Bom, das bandas que escutei recentemente, novas ou não, gostei muito do RDA77, Adolescentes, Juventude Maldita, Carne Moída, Contramão e o Periferia S/A que também está foda !!!!

TP: Bom Marcos, boa tour européia pra galera do Agrotóxico, muita sonzeira por lá, squats... Agora deixo o espaço pra você dar o seu recado:
M:
Bom, primeiramente fico muito satisfeito em ver o empenho e a dedicação de todos vocês na realização do Total Punk, pois muito embora existam vários pretensos sites Punk, num primeiro momento, apenas o Total Punk e o Fuckkk the System, acredito que possam carregar esse título. No mais agradeço esse espaço concedido ao Agrotóxico e convoco a todos para acessarem o nosso site e exporem todas as suas idéias e opiniões.

Site: www.agrotoxicohc.com.br

Entrevista publicada no extinto site: Total Punk



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